EDUCAÇÃO NO SÉCULO XXI: o uso das tecnologias móveis e da internet no ensino-aprendizagem das crianças.
PRAZERES, Hérika Christina da Silveira
RIBEIRO, João Pedro Rodrigues
SOUSA, Rossini Carlos Silva
RESUMO
O presente artigo enfoca os principais aspectos relacionados à introdução de novas tecnologias nas práticas pedagógicas em sala de aula buscando-se uma analise a partir de pesquisas bibliográficas. Busca-se fazer um paralelo entre a realidade observada na atualidade e os conceitos presentes nas salas de aula ao longo dos anos que enfoquem direta ou indiretamente a temática em questão. Dessa forma, visa-se contribuir para ampliar as concepções acerca das Tecnologias Educacionais Modernas e as práticas dos educadores em sala de aula.
Palavras-Chave: Tecnologia. Prática Pedagógica. Docente. Família.
ABSTRACT
This article focuses on the main aspects related to the introduction of new technologies in teaching practices in the classroom seeking an analysis from literature searches. Seeks to draw a parallel between the observed reality nowadays and concepts present in classrooms over the years that address directly or indirectly the subject in question. Thus, we aim to contribute to broaden conceptions of Modern Educational Technologies and practices of educators in the classroom.
Keywords: Technology. Pedagogical Practice. Instructor. Family
1 INTRODUÇÃO
No mundo moderno, as novas tecnologias ganharam espaço considerável nos processos comunicativos e educativos tornando-se uma espécie de complemento essencial na vida das pessoas. Tendo em vista a maneira como as tecnologias vêm se inserindo cada vez mais prematuramente no convívio social, observamos o modo como tais inserções interferem no processo de maneira positiva e negativa na aprendizagem, cujo público alvo tem sido principalmente as crianças.
O uso das inovações tecnológicas traz tanto facilidades quanto problemas oriundos de algumas quebras nas relações sociais do individuo, pois quando não usadas adequadamente trazem consequências negativas que podem perdurar por toda a vida do individuo. Se por um lado há o desenvolvimento de jogos educativos voltados a alfabetização de crianças de modo a ensiná-la matemática, português e outras disciplinas através de novos estímulos existe a possibilidade deste individuo achar que não depende mais de terceiros, perdendo parte significativa de sua sociabilidade.
Ultimamente se tem observado cada vez mais que a elaboração de políticas e teorias voltadas para a inserção de ferramentas tecnológicas no aprendizado vem tomando dimensões inestimáveis. Entretanto, nossa preocupação se dá com a maneira pela qual tais inovações estão sendo recepcionadas por nossas crianças, no sentindo de que não estejam sendo antecipadas a toda e qualquer noção de valor, ou seja, que venham acompanhadas de suportes psicológicos na intenção de que sejam convertidas para facilitar pura e simplesmente a apreensão de conhecimento.
Para tanto é de fundamental importância que além dos implementos metodológicos e problemas de ensino, haja maior engajamento por parte da família desde os primeiros brinquedos (tablets, vídeo games, iphones, notebooks e demais), de modo que o uso de tais instrumentos ainda no âmbito dos lares não seja exagerado ao ponto de dar à criança o sentimento de tudo poder fazer, no sentido de unicamente pesquisar sem existência de um criticismo, a todo e qualquer momento.
Outro ponto de vital importância a ser analisado é a questão do isolamento, aqui percebido de maneira bem diferente dos primeiros anos da Idade Moderna, onde tal isolamento, no interior dos mosteiros, era visto como sinônimo de distanciamento das atribulações das cidades, significando maior aproximação de Deus e do conhecimento. Algo bem oposto ao que se percebe nos dias atuais, onde o estar fora da sala de aula nos fornece a sensação de estarmos conectados com o mundo, agindo como partícipes da construção dessa dinâmica de acontecimentos mundiais.
Desta forma, analisaremos fontes documentais já existentes sobre o modo como tais tecnologias têm modificado os processos envolvidos na aprendizagem, desenvolvimento e retenção de conhecimento por parte das novas gerações. Pretendemos com isto, identificar lacunas no processo de ensino-aprendizagem através das tecnologias, bem como o rompimento das relações sociais dos indivíduos e suas formas de comunicação. Faremos contraponto entre malefícios e benefícios perpassando pelo papel imprescindível no que tange a participação da família, da escola e da própria sociedade como um todo diante dos novos paradigmas surgidos a partir do momento de inserção das inovações tecnológicas no ambiente sócio cultural.
2 HISTÓRICO DO PROBLEMA
Começaremos pela nossa modesta, mas não menos pertinente intenção de tentar mostrar um pouco “desse” cenário escolar, de como se deram as suas modificações no que concerne aos métodos de ensino-aprendizagem. Se para progressão ou regressão, sem esquecer também é claro, das preocupações com relação ao espaço físico, suas instalações e até mesmo suas localizações.
Em busca de um melhor apanhado, regressaremos à década de sessenta do longínquo século XVII, mais precisamente, ao ano de 1661, onde Maria Lúcia Spedo Hilsdorf (2006), em seu livro “O Aparecimento da Escola Moderna”, faz alusões no sentido de que o ensino, para ser bem sucedido naquela época, implicaria em ter um espaço que se assemelhasse a:
O lugar adequado e cômodo às Musas [isto é, aos estudos] é aquele isolado, separado e afastado da multidão incontável do mundo; onde o estudante terá sua estante de livros, sua mesa, seu escritório portátil ou o tinteiro e o recipiente de tinta, seu areeiro ou caixa de serragem, e seu estojo de cálamos ou penas, com o canivete, a faca e o talhador de penas. Eis as armas e o equipamento de um escolar (p.176).
Dessa passagem podemos extrair alguns dos requisitos que outrora foram concebidos como sendo de fundamental importância para a harmonia e, conseqüentemente melhor e maior funcionamento das estratégias educacionais daquele contexto. Cabe lembrar também que - em voga desde o século XI, o renascimento urbano na Europa, principalmente na sua parte Ocidental, teve seu boom no decorrer do século XII, resultando da reorganização da função comercial das cidades, quer fosse das remanescentes do mundo antigo (urbs) quer pelas localizadas nos bairros que tinham crescido ao pé das muralhas dos castelos ou em torno dos próprios mosteiros (burgos).
Não podemos perder de vista em hipótese alguma a configuração geral daquele ambiente europeu, assolado por ameaças de invasões e violências inerentes ao mundo feudal, gerando uma necessidade de desenvolvimento defensivo. A partir do momento que os pressupostos básicos para as edificações dos aglomerados perpassavam por erguer verdadeiras fortalezas, sem deixar de atrair é claro, para a guarida de seus muros os grandes contingentes de trabalhadores que fugiam dos campos devastados e encontravam-se a “pairar” em busca de proteção e novas alternativas de vida.
Observada desse ângulo, as comunas desempenhavam como nunca antes visto, um singular potencial atrativo. Nas extensões de suas ruas, havia uma intensa atividade de compra e venda de produtos e serviços. No interior das (universitates), alguns moradores se reuniam em corporações de ofícios, sendo os mercadores de tecido de lã os primeiros a exercer essa forma de produção. Segundo Peter Burke (2010), em seu livro “Cultura Popular na Idade Moderna”, os grandes aglomerados eram pontos de encontro entre uma infinidade de pessoas, que os buscavam atraídos entre outras coisas pela oportunidade de diversão e entretenimento. Entre os “artistas” procurados estavam os (saltinbanchi) e os (ciarlatani), ambos os termos em italiano, onde o primeiro se apreende que é uma pessoa que fala de cima de um banco, mocho para ser melhor percebido ao divulgar seu produto, serviço ou peça teatral, enquanto que o segundo faz referência à pessoa que comercializa remédios, “vende curas” .
É interessante atentar para a peculiaridade de que, se por um lado as grandes cidades exerciam e continuam a exercer até os dias atuais o poder de atrair para os seus domínios a fundação de grandes Universidades. No outro extremo dessa história, está o entendimento por parte dos grandes “educadores” daqueles tempos. Tais preocupações com relação às propostas educacionais ficam mais bem esclarecidas quando nos deparamos com passagens que fazem menções aos monges como detentores de características e mais, os apontam também como gozadores de aparato mais voltados para o bom aprendizado. Sobre o assunto, HILSDORF (2006) diz:
[...] Originalmente o monge se definia como o “homem de coração puro” que queria reviver, na solidão do deserto, o Adão do Paraíso, rejeitando tudo o que vinha da cidade imperial romana, fonte de corrupção, inclusive a educação que ela oferecia: “no paradigma monástico a cidade perde sua preeminência enquanto unidade social e cultural distinta (...) [e seu papel de] socialização dos meninos”. Assim, à medida que a Alta Idade Média avança para o período feudal, acompanhando o lento processo de perda de poder das cidades, a única forma autêntica e plena de vida cristã aceita à época era aquela que renuncia o mundo, e seu representante exemplar era o monge, como diz G. Miccoli (Os monges). (pp. 12-13).
Essa era a forma que os monges tinham de lutar contra o mundo, nesse caso, representado pelas características que vimos linhas acima, comuns ao cotidiano das cidades, características essas, adicionadas ao sexo, a família, ao riso e à procriação. O espaço recluso dos mosteiros separado por enormes paredes servia como meio de isolamento da vida citadina e pública do mundo antigo, desse modo, os monges viviam voltados sobre si mesmos, em silêncio e solidão. E na escrita de HILSDORF (2006), “a sua própria roupa servia como um casulo, invólucro que os isolava e protegia do mundo”. (p.12).
Com o correr do tempo várias questões tornaram-se ainda mais sinônimos de “dever” da escola e, conseqüentemente função do professor. A começar pelo “conhecimento” das letras, dos números, entre outros aprendizados que eram iniciados somente no ambiente escolar. HILSDORF (2006) mais uma vez em aponta por meio de ilustrações as diferenças culturais através de um comparativo feito entre alguns países da Europa como França, Itália, Alemanha, Portugal, Espanha e Holanda, onde a este último é atribuído um maior acompanhamento por parte, principalmente da mãe não só nos primeiros cuidados dispensados aos filhos como era o caso da amamentação, mas também na transmissão dos sumários ensinamentos/aprendizados escolares. O número de pinturas tendo como autoria artistas de origem holandesa retratando o interior doméstico, onde reinava a aproximação entre mãe e filhos privilegiava e superava em grande parte as pinturas dos demais países, denunciando uma forma específica de trato afetivo nos países baixos.
Fazendo uma comparação dessas diferentes formas de lhe dar com a educação da criança, somos levados a fazer julgamentos acerca de qual método poderia ser o mais adequado. Afinal de contas, estamos nos referindo ainda a um período em que, de acordo com HILSDORF (2006),
Cuidar da criança passou a significar retirá-la do seio da família e da sociedade e devolvê-la ao mundo depois de doutrinada e socializada, isto é, obediente às leis divinas e humanas e, formada nas artes da palavra, apta a comunicar o seu pensamento. (p. 77)
Chegamos ao século XX imersos em uma mentalidade eurocêntrica que remonta exatamente ao período ora citado, pois foi este ambiente de ensino que moldou as estruturas escolares do mundo moderno. A partir da segunda metade do século XX, o desenvolvimento da tecnlogia de informação, com o aparecimento de novos componentes que permitiram uma rápida evolução dos computadores, as pessoas iniciaram um novo tipo de interação não somente entre elas e as máquinas, mas entre outros indivíduos da mesma sociedade.
Com o surgimento da internet, mais precisamente da www, no ano de 1992, os seres humanos passaram a interagir cada vez mais de forma praticamente instantânea, o telefone já havia propiciado um avanço nas comunicações, mas a internet, principalmente no início do século XXI, integrou vídeo, voz, texto e jogos ao grande emaranhado de formas de interação.
Os nativos da tecnologia do século XXI, como são chamados os nascidos a partir do ano de 2001, já nascem imersos em um ambiente onde a gama de tecnologias disponíveis o faz sentir totalmente inserido naquele contexto. Para um nascido antes de tal era, é pouco concebível que uma criança seja capaz de manusear com extrema habilidade um dispositivo recém-lançado no mercado. Porém, se analisarmos de maneira mais precisa, verificaremos que o número de estímulos aos quais o indivíduo está diariamente exposto é muito superior ao de indivíduos ditos “não nativos”, ou seja, dos que nasceram antes de todo este aparato tecnológico invadir nossas vidas.
Desta maneira, a criança do mundo moderno tende a se alfabetizar de maneira mais distinta do que outrora, os jogos infantis, presentes tanto em smartphones quanto em tablets, que são os dispositivos mais presentes na vida destas crianças, acabam de certa forma substituindo não apenas os livros ou brincadeiras, mas também a figura do próprio professor que antes alfabetizava.
Cabe ressaltar que o papel desempenhado tanto por pais quanto por educadores é de extrema importância para o bom aproveitamento das novas tecnologias. Porém, os pais têm negligenciado demasiadamente o seu papel de agente fiscalizador e moderador daquilo que a criança pode ou não ter acesso através dos dispositivos uma vez que estes oferecem infinidades de programas educativos, cresce também a responsabilidade e necessidade de inserção do professor no mundo virtual. Enfatizamos também que por mais que a inserção tecnológica tenha nos dado maior rapidez disso e daquilo, é este mesmo vilão que nos faz perder horas e horas ao irmos e retornarmos das nossas obrigações profissionais, nos fazendo perder instantes preciosos em filas de supermercados e bancos, nos deixando sem tempo e paciência para absolutamente nada ao termino de cada dia de trabalho.
2.1 O uso das tecnologias no ensino
Atualmente, as tecnologias modernas não são exploradas adequadamente no campo do ensino-aprendizagem. Apesar da massificação dos chamados ambientes virtuais de aprendizagem, AVA’s, as tecnologias aqui analisadas não se encontram em tal classificação. O AVA é o local onde o aluno pode interagir tanto com o professor quanto com outros alunos, é um website onde todo o conteúdo é disponibilizado, o que significa que seu conteúdo é centralizado.
Precisamos antes entender que a aprendizagem virtual está ligada à inexistência de um local físico onde se dá o processo de troca de conhecimentos, conforme Pedro Demo, em seu texto “Tecnofilia & Tecnofobia”,
Ao fundo da expressão “aprendizagem virtual” está a expectativa de alternativas aos modos tradicionais de aprender, em especial na sala de aula marcada pela presença física do professor e do aluno. Insinuam-se também outros modos de contato pedagógico, que não sejam sempre aqueles próprios da relação física “ensino/aprendizagem”, incluindo “presença virtual”.
Isso significa dizer que o professor ainda se faz presente, agora é chamado de tutor, desenvolvendo tarefas de facilitador do processo e mediador de dúvidas que possam aparecer. Mais pertinente ainda, é notar que os AVA’s podem se configurar em verdadeiras armadilhas aos alunos, conforme Pedro Demo
Sob esta denominação cabe muita coisa, em especial o charme de panacéias que prometem mundos e fundos, principalmente acesso facilitado a diplomas com cursos encurtados ao tamanho do bolso do cliente e do escasso tempo que tem para estudar.
Porém, a estrutura física não deixa de ter sua importância, grande parte dos problemas da educação atual, também tem como origem a própria falta de conservação da escola. Banheiros sem condição de uso, cadeiras quebradas e toda uma infinidade de mazelas que afastam os alunos daquele ambiente que deveria ser compreendido não apenas como uma instituição onde a criança vai para aprender coisas novas, mas como uma segunda casa.
O uso de tecnologias por parte dos alunos deve ser monitorada de modo a criar autodisciplina entre eles, tendo em vista que a criança por si só não sabe reconhecer aquilo que pode ser benéfico ou maléfico quando do uso das ferramentas disponibilizadas. Como bem pontua SERRES (2013), “De acordo com ele, a polegarzinha e o polegarzinho manipulam várias informações ao mesmo tempo: por celular tem acesso a todas as pessoas, por GPS a todos os lugares, pela internet a todo o saber.” (p.19). Continuando ele afirma em seguida, “Assim, é como se não habitassem mais o nosso espaço, nosso mundo. Mas há ainda outra diferença que os singularizam. Não tem mais a mesma cabeça.” (p. 21).
Na reflexão acima, Michel Serres (2013) atenta para uma questão de suma importância para esse cenário informatizado. Esse tão falado mundo globalizado nos oferece possibilidades de ampliação do nosso raio de visão de modo imensurável. Só que o grande desafio é que à medida que estendemos nossos olhares para além das nossas fronteiras, corremos o risco de cair naquela velha armadilha de cuidar do quintal do vizinho e em troca deixamos o nosso aos cuidados dos outros.
Com isso nasce a necessidade de mantermos um equilíbrio para que a nossa curiosidade e conhecimento saia em busca de novos horizontes, mas que também retorne com a finalidade de não perdermos de vista as maravilhas do nosso meio. E um primeiro passo para que isso não ocorra, é valorizando e explorando os nossos contextos naturais, vegetais, animais, geográficos, físicos, biológicos, etc.
Ao mesmo tempo em que o uso de jogos presentes nos recursos tecnológicos ampliam o campo de visão do indivíduo, já que permite intensa interatividade, também termina por afastar a criança das relações afetivas a partir do momento em que não se demarca um limite até o qual a mesma pode utilizar estes recursos. Os pais não podem permitir que apenas as atividades virtuais participem da formação ético-cultural dos filhos.
Cabe ao professor, o papel de mediador das atividades desenvolvidas, pois “As tecnologias podem trazer, hoje, dados, imagens, resumos de forma rápida e atraente. O papel do professor – o papel principal – é ajudar o aluno a interpretar esses dados, a relacioná-los, a contextualizá-los” (Moran, 2013, p.30). Pensado desta maneira, os professores devem ter a possibilidade de estudar as novas tecnologias voltadas para a educação. Para Moraes (2008)
As novas tecnologias apresentam-se como instrumentos eficazes e adequados à realidade social. A escola não poderia ficar alheia a essa discussão... o novo aluno pertence a uma geração digital e pode assimilar com mais facilidade o uso desses recursos. (p.19)
A educação serve para fazer mais do que usuários e desenvolvedores de tecnologias, pois as Tecnologias da Informação e Comunicação – TICs, são um novo espaço pedagógico que oferecem grandes possibilidades e desafios para a atividade cognitiva, afetiva, social de alunos e professores. Logo o desafio é:
Inventar e descobrir usos criativos da tecnologia educacional que inspirem professores e alunos a gostar de aprender, para sempre. Os projetos educacionais desenvolvidos via redes não podem ser pensados apenas como uma forma diferenciada de promover o ensino. Eles são formas poderosas de interação, cooperação e articulação que podem abranger professores, alunos, pessoal administrativo e técnico (Kenski, 2007, p.68).
Em se tratando de educação à distância podemos dizer que esta traz vários recursos ao professor que minimizam os impactos educacionais do discente. Ela desenvolve um modelo próprio e flexível, eliminando rígidos princípios em relação a quando estudar, onde estudar e em que velocidade aprender, rigidez comum em modelos totalmente presenciais.
Concordamos com Belloni (2009, p.5) quando diz que:
os modelos de acesso ao conhecimento de amanhã são difíceis de imaginar e, então, o melhor caminho será centrar o foco no utilizador (usuário) por duas razões logicamente necessárias: entender como funciona esta autodidaxia para adequar métodos e estratégias de ensino; e assegurar que não se percam de vista as finalidades maiores da educação, ou seja, formar o cidadão competente para a vida em sociedade o que inclui a apropriação crítica e criativa de todos os recursos técnicos disponíveis na sociedade.
Deste fato, só podemos dizer que precisamos urgentemente atualizar a nossa tecnologia educacional porque temos uma nova autodidaxia se desenvolvendo há vários anos no país e nos nossos jovens por meio das mídias, ou seja, é necessário “Pensar a comunicação” (Wolton, 2004), a educação para as tecnologias da comunicação e informação dentro e fora da sala de aula.
Compreendemos, portanto, que educar é colaborar para que professores e alunos transformem suas vidas em processos permanentes de aprendizagem. É ajudar os alunos na construção da sua identidade, do seu caminho pessoal e profissional – do seu projeto de vida, no desenvolvimento das habilidades de compreensão, emoção e comunicação que lhes permitam encontrar seus espaços pessoais, sociais e profissionais e tornar-se cidadãos realizados e produtivos (Moran, 2000, p.13).
As tecnologias digitais podem fortalecer uma educação contextualizada e crítica, desde que o uso das mesmas na relação ensino-aprendizagem permita uma compreensão e apropriação crítica destas.
2.2 A formação social do indivíduo
O antigo modelo educacional implicava na existência de um prédio com grossas paredes e, de preferência bem distante das atribulações citadinas. Por outro lado, é sabido também que na Grécia Antiga, de pensadores como Platão, Sócrates e Aristóteles, por exemplo, era comum o hábito dos professores percorrerem as ruas das cidades com seus alunos, explorando assim, toda a dinâmica natural, social, cultural, econômica e política ali existente. Com isso, os alunos tinham a oportunidade de estudar, ou melhor, (presenciar) geografia, matemática, história, física, engenharia, etc.
Durante muito tempo essa reclusão da criança estudante tanto do seio da família quanto do seio social foi deixada de lado. Apreende-se daí que muitos ganhos poderiam ter ocorrido, no entanto, isso é algo muito difícil de ser ponderado por estarmos tratando de seres humanos que reagem de modo diferente nas mais variadas situações.
Não é nossa intenção aqui fazer julgamentos, entretanto, não dá pra esquecer que um pouco mais de convívio familiar resultaria em indivíduos mais preparados psicologicamente para a vida adulta. Assim como em alguns casos outros fracassariam por não possuírem ensinamentos de que a vida requer perseverança após as quedas. Já no que tange o convívio social, pessoas que não atingiram certo patamar de ascensão, teriam tido maiores possibilidades se estivessem sido postos à prova, vivido certas situações e a partir daí se tornado cidadãos mais equilibrados.
No contexto do século XXI, temos grandes inovações tecnológicas que trouxeram e trazem consigo maior rapidez de comunicações, deslocamentos, informações, conhecimentos e conhecimento de acontecimentos – nos apresenta computadores, tablets, celulares e outros mecanismos eletrônicos com enorme potencial comunicação e informação.
Tudo isto implica no distanciamento e pouco tempo entre pais e filhos, ou seja, mais falta de “quase tudo” (afeto e acompanhamento dos pais). É aí que entram os aparelhos eletrônicos supracitados, desempenhando o “trabalho sujo”, ou seja, quando são usados como “válvulas de escape”, como forma de distração para os pequenos enquanto os pais (estafados da dura jornada de trabalho) não pensam em outra coisa que não seja repouso.
O viés nesse momento soa como algo extremante importante, porque se for explorado com essa estratégia, causará na criança um sentimento unicamente de distração. Apresentará grande periculosidade caso seja concebido com a função de estancar um choro que vai desde a falta de carinho e atenção ao “não” dos pais quando do pedido de um brinquedo ou de um desejo que não possa ser naquele momento saciado.
Visto por essa ótica, a estratégia geralmente adotada pelos pais acaba sendo apenas uma medida paliativa que como as demais, acaba amenizando a dor momentânea pra dar origem a outra muito maior e mais grave no futuro. O que somos conduzidos a esperar dessas crianças da geração “polegarzinha” segundo Michel Serres, é um considerável número delas sendo não possuidoras de sentimentos limites e equilíbrio psicológico.
Aos pais se impõe um grande desafio, o de edificar uma espécie de ponte que os liga (seio familiar) ao professor (ambiente escolar). Se em páginas anteriores vimos que a filosofia de educação e formação estava sob tutela das instituições de ensino, agora esse olhar é um tanto quanto modificado. O conhecimento das vogais juntamente com as consoantes e os números, já está disponível em uma variedade de excelentes programas educativos que são criados com a finalidade de irem inculcando o mais cedo possível esse conhecimento nas nossas crianças.
No exemplo das vogais e consoantes, ou seja, do alfabeto, esses exercícios são elaborados a partir da intenção em fazer com que as mesmas façam a ligação entre as figuras que, na maioria dos casos são animais, brinquedos e acessórios da vestimenta de ambos os sexos entre outros objetos. Já com relação aos números, o objetivo é a analogia desses com uma quantidade de objetos pertencentes a uma infinidade de alternativas. De acordo com PARO (2011),
Para ensinar bem, já não basta mais, como na estratégia tradicional, dominar determinado “conteúdo”. Se o fim do ensino escolar não é apenas “encher” uma cabeça, mas formar uma personalidade humano-histórica, a educação se faz muito mais complexa e exige a consideração de todos seus fundamentos históricos, econômicos, sociológicos, psicológicos, antropológicos e filosóficos. (p.29)
Podemos observar claramente que a escola dos dias atuais precisa passar por novas transformações que vão além do modelo tradicional, para que os novos formandos passem a se sentir inseridos neste ambiente. Nossa própria convivência com filhos, sobrinhos ou mesmo filhos de amigos próximos, acaba por nos fornecer exemplos precisos de como a vida escolar está sendo vivida atualmente.
Em conversa com um pai de uma criança de quatro anos de idade, e que já freqüenta o maternal, o mesmo acabou por revelar a grande dificuldade que sua filha possui em fazer as atividades escolares. O problema não é oriundo do fato de saber ou não fazer os exercícios, mas sim em haver certa resistência por parte da criança em querer desenvolver as atividades de escrita e leitura somente por intermédio das ferramentas eletrônicas.
É por isso que uma das funções primordiais dos pais deve ser a de disciplinar seus filhos no que concerne ao uso de tablets e smartphones como forma de auxiliar na aprendizagem dos mesmos. Não estamos dissertando contra a inserção de tais ferramentas tecnológicas no meio escolar, nosso objetivo é mostrar que para além da exploração do infinito poderio de informações e de conhecimento contido nessas ferramentas, o ensino-aprendizagem não se resume pura e simplesmente a isso. Na verdade, este processo requer muito mais, afinal de contas vivemos em um mundo em que o lado documental e experimental das coisas continua tendo peso significante.
Em uma conversa informal o professor Julio Espíndola, das redes estadual e municipal da Grande São Luís, que tinha como pauta o incentivo às referidas ferramentas no ensino-aprendizagem, esbarramos em um consenso de quão grande a exploração exagerada desses aparelhos eletrônicos pode resultar daqui a alguns anos em problemas para os jovens.
Foi chegado o momento em que ele fez uma reflexão com relação ao perigo que a aquela mescla de raios de luzes pode causar à visão do ser humano e, se o motivo de tempos atrás a mudança da coloração do quadro negro para o quadro verde tem ligação direta com o fato de a “mãe natureza”, nossa maior “fonte de vida” apresentar em sua grande coloração o verde. O mesmo verde que exala esperança, poderia nessa situação estar sinalizando algo no sentido de que uma fração dessas transformações merecem ser tratadas e estudadas com um pouco mais de atenção.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O mundo moderno nos trouxe diversos avanços tecnológicos que servem como auxiliares nas mais variadas tarefas. Tais inovações trouxeram também uma maior agilidade e eficiência nos processos comunicativos. É praticamente impossível para os cidadãos do século XXI pensarem suas vidas sem a eletricidade, veículos automotores, comunicações via telefones e, nesta primeira metade do mesmo, sem o acesso às mais variadas formas de informação através de dispositivos fixos ou móveis.
O surgimento de equipamentos que se pode carregar para onde for sem a necessidade de uma ligação física com a tecnologia de comunicação, como os cabos, trouxe facilidades e, mais que isto, dependência. Os indivíduos que não sabem mensurar adequadamente o tempo o qual ficam conectados acabam por desenvolver dependência, isto o afasta cada vez mais das relações sociais humanas, pois este prioriza se comunicar predominantemente através dos sistemas online, sendo incapaz de desenvolver um diálogo pessoalmente.
Neste sentido, as tecnologias tem sido colocadas para as crianças de maneira não muito adequada justamente no que tange às suas funcionalidades, pois a criança acaba usando os dispositivos tecnológicos de maneira não supervisionada por pessoas que podem discernir facilmente o que pode ou não ser acessado através de tais dispositivos.
É inegável, porém, que a adoção de computadores e outros dispositivos no ambiente escolar constitui um caminho para onde todas as diretrizes estão seguindo. Não é apenas a escola que precisa se adequar, justamente porque o acesso não ocorre apenas dentro de seu ambiente, mas começa em casa, passa pelos locais de lazer para finalmente chegar até a sala de aula.
Desta forma, é preciso que pais e educadores estejam em constante diálogo para saber quais são as melhores formas de aproveitar o máximo do que a tecnologia pode oferecer. A criação de grupos de pesquisa, jogos educativos são apenas exemplos do potencial a ser explorado tanto pela criança quanto pelos profissionais que estão diariamente lidando com a geração que nasceu imersa em toda esta tecnologia.
Aos nossos olhos, o que parece ser mais sensato é estudar cada caso em sua peculiaridade ao invés de tentar querer provar por força que modelos antigos encontram-se defasados, portanto, sem a menor utilidade para o nosso contexto. Agir dessa forma seria regredir mediante o desejo cego de caminhar adiante, seria colocar em descrédito a brilhante carreira de infinitos mestres (professores), que com um monstruoso amor pela profissão e por seus pupilos (alunos), lograram sucessos na profissão e por que não dizer na vida.
Pensar de tal maneira seria fechar os olhos para os grandes vencedores (historiadores, geógrafos, engenheiros, arquitetos, médicos, dentre outros) que se tornaram pessoas com enorme poder de contribuição mediante uma paixão que nasceu da admiração pelo professor. Sem esquecer é claro daqueles jovens que passaram pelas maiores dificuldades por não dispor de suporte familiar adequado, mas que ao receber a atenção e o carinho de um dos seus mestres conseguiu adquirir a motivação e balizamento necessário para se tornarem homens de grande valia.
REFERÊNCIAS
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